sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Imanência

Eis um conceito difícil de entender. Então, vou começar complicando. Luc Ferry defende a transcendência na imanência. Paradoxo, pois, num sentido, imanência é o oposto da transcendência. Transcendente é o que vai além, sai de si, busca fora o princípio e a essência. Imanente é o que fica em si e tem em si o princípio e a essência. Esta a minha explicação. Mas vamos ao dicionário: imanente é o que está compreendido na essência do todo. Por essa definição, imanência seria a idéia de fazer parte do todo, mas compreender em si o todo. Outro paradoxo. A parte está no todo e contém o todo em si - o conteúdo abarca o continente, embora a distinção fora/dentro não faça sentido desde uma perspectiva imanente.

De qualquer forma, a doutrina teológica do imanentismo nega a existência de influências transcendentais sobre o mundo (não sobre o homem).

A enciclopédia ensina que imanente é um termo usado em contradistinção a transcendente (in-manere: permanecer em si, ficar ou lidar dentro de si). Imanente refere-se ao fato ou condição de estar completamente compreendido dentro de algo. O uso mais importante do termo é teológico, na doutrina estóica de Deus como sendo a Natureza, existindo no e através do mundo criado, onde criador e criatura se confundem. Neste sentido, o imanentismo se opõe ao teísmo, que concebe Deus como um criador separado e acima do universo.

A filosofia transcendental petende basear-se apenas na razão pura, desprezando a observação e a análise de fatos objetivos dados pelos sentidos. O idealismo platônico é um transcendentalismo, afirmando a realidade última das idéias puras e considerando o mundo material apenas como aparência ou simulacro, uma instãncia inferior e derivada das essências que estão no mundo das idéias.

Ora, o acesso às idéias puras só pode se dar através de um olhar para dentro, que silencie os sentidos e busque apenas a intuição. Subjetivismo radical. Voltamos então à expressão de Ferry: a transcedência original (o idealismo platônico) só é possível através de um mergulho radical no eu. Em mim o mundo e, mais além do mundo o todo, a esfera das idéias fixas.